terça-feira, 19 de agosto de 2025

19 de agosto - Dia Nacional do Orgulho Lésbico. 29 de agosto - Dia Nacional da Visibilidade Lésbica.

O movimento lésbico negro no Brasil é uma força fundamental na luta por direitos e reconhecimento, marcada pela interseccionalidade das opressões de raça, gênero e sexualidade. Sua trajetória é de constante resistência e busca por visibilidade em espaços que historicamente as marginalizaram.           
Primórdios e a Formação da Identidade (Anos 1970-1980)
O ativismo lésbico no Brasil começa a se articular ainda na década de 1970, em um contexto de redemocratização e efervescência de movimentos sociais. Contudo, as mulheres negras lésbicas enfrentavam uma dupla invisibilidade: dentro do movimento feminista hegemônico, que muitas vezes ignorava as especificidades raciais, e dentro do próprio movimento LGBT+, que frequentemente priorizava as pautas de homens gays e brancos.
Nesse período, a importância do feminismo negro começa a ganhar força, com pensadoras e ativistas questionando a universalização da experiência feminina. A busca pelo reconhecimento das necessidades e direitos das mulheres negras, incluindo as lésbicas, começa a se destacar. É nesse contexto que surgem as primeiras iniciativas de organização, como o Grupo de Ação Lésbica Feminista (GALF), que em 1981 lançou a ChanacomChana, a primeira publicação ativista lésbica do país. Embora não focada exclusivamente em mulheres negras lésbicas, representou um marco na visibilidade lésbica.             
Consolidação e Articulação (Anos 1990-2000)
A década de 1990 trouxe um cenário de maior articulação para o ativismo lésbico. Com o aprofundamento do debate sobre interseccionalidade — conceito cunhado pela teórica do feminismo negro Kimberlé Crenshaw —, a compreensão de que as opressões se sobrepõem e se agravam para mulheres negras e lésbicas se tornou mais evidente.
O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, celebrado em 29 de agosto, foi estabelecido em 1996 durante o I Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE), no Rio de Janeiro. Embora o foco fosse a visibilidade lésbica em geral, a data também se tornou importante para as lésbicas negras, que continuavam a lutar por reconhecimento dentro e fora dos movimentos. A criação da Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) em 2003, no Fórum Social Mundial, como uma rede feminista e marxista, também abriu caminho para uma maior organização.                                                
Fortalecimento e Representatividade (Anos 2010 até os Dias Atuais)
Nos últimos anos, o movimento lésbico negro tem ganhado ainda mais força e voz, impulsionado pela maior difusão do conceito de interseccionalidade e pela crescente ocupação de espaços políticos e sociais.                                      
 * Marcha das Mulheres Negras (2015): Embora não exclusiva para lésbicas, a Marcha das Mulheres Negras contra o racismo, a violência e pelo bem viver foi um marco significativo, onde as pautas de mulheres negras, incluindo as lésbicas, tiveram grande visibilidade e se uniram em uma força coletiva.             
 * Avanço na representatividade política: Atualmente, há uma busca por maior representatividade de mulheres negras lésbicas em cargos políticos. Nomes como a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), e a deputada estadual Leci Brandão (PCdoB) são exemplos de mulheres públicas que contribuem para a visibilidade dessa comunidade.                
 * Desafios Contínuos: Apesar dos avanços, o movimento lésbico negro ainda enfrenta desafios significativos, como o combate ao lesbocídio, a violência específica direcionada a mulheres lésbicas, agravada pelo racismo quando se trata de mulheres negras. A luta por acesso à saúde, direitos sexuais e reprodutivos, e o combate à invisibilidade e ao apagamento de suas histórias e contribuições continuam sendo pautas centrais.
O movimento lésbico negro no Brasil segue em constante afirmação, construindo suas próprias epistemologias e estratégias de luta a partir de suas experiências singulares, desafiando as estruturas de poder e buscando uma sociedade mais justa e equitativa para todas as pessoas.