segunda-feira, 10 de julho de 2017

Testes rápidos em índios do Amazonas e de Roraima mostram taxas importantes de sífilis e HIV


Uma análise conduzida em nove Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) dos estados de Amazonas e Roraima revela que a mobilidade é um importante fator de risco para infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e por sífilis nessas comunidades. Para a autora Dra. Adele Schwartz Benzaken, do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), do HIV/Aids e das Hepatites Virais do Ministério da Saúde, e da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, em Manaus, isso ocorre porque a mobilidade leva a contatos interétnicos. Mas há ainda outras questões importantes que contribuem para aumentar o risco de ISTs entre os indígenas de todas as etnias, por exemplo, iniquidade social, questões culturais, desinformação e pouco uso de preservativo.
Em estudo publicado em junho deste ano no International Journal for Equity in Health, a Dra. Adele e colaboradores estimaram a prevalência de HIV e sífilis entre 45.967 índios nos DSEIs de Manaus, Ianomâmis, Leste Roraima, Alto Solimões, Parintins, Alto Rio Negro, Médio Solimões, Médio Purus e Vale do Javari. A investigação foi conduzida entre fevereiro de 2009 e junho de 2011.
Durante o trabalho, 509 profissionais de saúde foram treinados para rastrear as infecções usando testes rápidos. Eles anunciaram a testagem nas comunidades usando um megafone e também folhetos e cartazes que foram adaptados culturalmente para cada grupo indígena. Os participantes receberam aconselhamento pré-teste de HIV e foram entrevistados utilizando um questionário estruturado. A pesquisa foi registrada pelo cineasta Aldemar Matias, e resultou nos documentários Parente e Nati Parente. O primeiro pode ser acessado no link: https://vimeo.com/40111854.
A média de idade dos participantes foi de 22,5 anos e 56,5% eram do sexo feminino. De forma geral, a prevalência de HIV foi 0,13% e de sífilis 1,82%. Na população geral brasileira, segundo dados de 2011 do Ministério da Saúde, a prevalência de HIV era de 0,4%[2]. Já a sífilis atingia 0,85% da população em 2012[3].
Na população indígena investigada os homens tiveram a maior prevalência de HIV (0,16%), seguidos pelas mulheres (0,11%) e por gestantes (0,07%). No caso da sífilis, a prevalência em homens foi 2,23%, em mulheres 1,51% e em gestantes 1,52%.
Dos nove distritos sanitários especiais indígenas analisados, o Vale do Javari, localizado em uma região de fronteira com a Colômbia e o Peru, apresentou as maiores prevalências para ambas infecções (HIV: 3,38% e sífilis: 1,39%). Esse distrito foi também o que apresentou a maior mobilidade e intrusão, e a menor disponibilidade de serviços pré-natais. O nível de violência também foi classificado como alto.
Além do Vale do Javari, Leste Roraima e Alto Solimões também apresentaram níveis altos dos três fatores de vulnerabilidade (mobilidade, intrusão e violência) avaliados.
Os autores definiram como mobilidade: frequência de interações entre cidades e comunidades e de contato com viajantes, com unidades das Forças Armadas e com as fronteiras do país. Já intrusão foi considerada como a presença de indústria madeireira, agronegócios, atividades de mineração ou áreas de garimpo ou mineração informal dentro ou perto do DSEI. Violência, por sua vez, considerou a existência de casos de agressão física e sexual, assassinatos, ameaças de morte e outras ameaças e disputas de terras.

FONTE: Medscape

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